top of page

De susto em susto, como fica meu psicológico?


"Depois de quase 10 anos como familiar-cuidador, você sabia que eu ainda tomo sustos?" (Familiar- Cuidador)


De uma maneira simples podemos dizer que o susto é uma reação biológica que acontece quando uma pessoa se depara com algo inesperado e ameaçador como, por exemplo, um barulho intenso, uma visão assustadora, uma notícia ruim e inesperada. O susto é constituído por uma reação fisiológica e comportamental do corpo contra possíveis ameaças, preparando-o para uma reação de luta ou fuga. Mas o susto, se for muito intenso e sequenciado, pode até causar danos maiores ao corpo.

Diante disso, podemos nos perguntar: como será que os sustos, 'experienciados' ao longo dos anos de cuidados com o idoso com Alzheimer, agem sobre os corpos-cuidadores?

Essa é uma pergunta que merece atenção, porém, antes de avançarmos, é preciso deixar claro que a concepção de corpo aqui empregada é a de corpo como unidade, ou seja, as emoções que são vivenciadas, seus efeitos estão no corpo como um todo e não somente em um "lugar" considerado psicológico. Nesse corpo uno, complexo, impregnado de substâncias vivas, inscreve-se a vida, o adoecimento, a saúde, as batalhas, as alegrias, as dores, os medos, os afetos, os desafetos, as potências e impotências, as resistências e capturas, as tensões, os enfrentamentos, os amores e desamores e também os sustos.

Dessa maneira, o que, no contexto dos cuidados com a doença de Alzheimer, poderíamos considerar como sendo sustos para o familiar-cuidador?

Imaginemos um familiar-cuidador que mora com sua mãe com Alzheimer que necessita de acompanhamento noturno e por isso, dorme no mesmo quarto que ela por mais de um ano.

Imaginou? Pois bem, o sono desse familiar-cuidador passou a ser leve, em sobressaltos - em estado de alerta a cada mexida, a cada gemido ele está atento.

Continuemos nessa situação hipotética: a mãe, ao se levantar para ir ao banheiro durante uma madrugada, mesmo com a ajuda do familiar-cuidador, tropeça na sandália e cai no quarto. Ainda que o socorro do familiar-cuidador tenha sido breve ela se desestabilizada com a queda, com o susto, que também a atinge, e chora ali mesmo no chão. O familiar-cuidador a abraça, tenta acalmá-la, verifica se fraturou alguma coisa, se ela está com dor, porém sequer sabe como tirará a mãe do chão. Feito isso coloca-a na cama e fica por algum tempo de vigília até que ela adormeça novamente.

Mesmo que a cena ocorra no silêncio da madrugada, estando os vizinhos dormindo e rua calma, naquele quarto, os corpos estão vivendo um turbilhão de sensações e sentimentos.

O corpo do idoso, aos poucos cede ao sono, mas o corpo do familiar- cuidador não consegue. Ele ainda vive a cena e teme o amanhecer, vira na cama revisitando memórias de cuidados que exigiram sua capacidade emocional e física para suportá-las. Sem perceber, aquele susto momentâneo, pode estar alimentando um estado de alerta constante em seu corpo e, talvez, surja daí possíveis sintomas como: problemas alimentares, insônia ou sono excessivo, sono agitado ou pesadelos, sentimentos de tristeza, baixa autoestima, sensibilidade interpessoal e apatia, dores musculares, extremidades frias, palidez, dor de cabeça, dor abdominal e diarreia.

Sabemos que diante dos desafios cotidianos, que inclui falta de ajuda com os cuidados para com uma pessoa com a doença de Alzheimer, não é tão simples buscar auxílio/orientação profissional qualificado quer seja psiquiatra, psicólogo, mas é extremamente recomendável ao familiar-cuidador que busque por ela uma vez que está mais susceptível ao adoecimento. E caso não possua condições financeiras para arcar com atendimento particular, ou tenha dificuldade ao acesso, a rede do SUS, respeitando as particularidades do serviço, realiza atendimento profissional qualificado aos usuários que dele necessitam.

Como os sustos provavelmente persistirão ao longo dos anos de cuidados, um acompanhamento com escuta qualificada, medicação, se for o caso, prescrita por profissional específico - médico, será de grande auxílio, pois com elas podemos dizer que o psicológico, concebido como parte do corpo, estará sendo cuidado e ficara mais fortalecido.

Escute, não podemos abrir mão disso.

Até breve!


Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivos
Procurar por tags
Siga-nos
  • Facebook Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page