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Coisas que se passam durante e depois de uma queda da própria altura.




Por Psicóloga Ruth Batista


Muita coisa se passa quando uma pessoa com Alzheimer sofre uma queda, com fratura que resulta em uma cirurgia.


Uma fratura é algo que tememos. Penso ser esta a experiência mais intensa desde o diagnóstico. Por isso quero dividir esta conversa em dois pequenos atos.


Primeiro ato: O trauma e as sensações corpóreas


Por mais que o ambiente esteja adaptado é impossível prever quando uma queda pode acontecer, por mais que tentemos controlar todas as variáveis.


Uma queda, uma cirurgia, além dos riscos, traz muitas limitações e uma recuperação lenta. Trata-se de um evento traumático que eleva o nível de estresse da pessoa com Alzheimer durante todos os estágios (a queda, a remoção, a internação, o ambiente, a cirurgia, a dor, os medicamentos, as pessoas estranhas etc) e enreda aquele que cuida em sua teia.


Tenho observado que esse aglomerado de situações, sensações

promove um estado confusional extremo na pessoa, resultando em um esgotamento físico, mental, emocional com perdas cognitivas que vão sendo percebidas na retomada da rotina. Algumas delas mais fáceis de serem observadas outras nem tanto.


Mudanças de comportamentos, alterações na capacidade relacional com o ambiente e pessoas. Tarefas, antes realizadas com certa facilidade, ficam mais complexas e difíceis.O ambiente parece irreconhecível aumentando delírios, quadros depressivos, choros intensos e angústia.


Aquele que cuida sente a sobrecarga das tarefas, agora readaptadas, nota que o tempo parece desacelerar e, imerso na rotina, não consegue vislumbrar a melhora. Sofre intensamente.


Ambos, pessoa e o familiar-cuidador, ficam esgotados. De um lado está a pessoa com Alzheimer tendo suas funções limitadas, sem entender o processo que está passando, do outro o familiar aprendendo lidar com as exigências de reinventar modos/estratégias de cuidados, antes não sabidas.


Segundo ato: Medo, insegurança e resistência


É preciso voltar aos movimentos, porém o medo, associado ao trauma, aos resquícios de memória do ocorrido, aumenta a resistência ao esforço que a fisioterapia exige, uma vez que musculatura que ficou parada produz dores.


A ansiedade, a irritabilidade com a introdução de novos utensílios de apoio como o andador, a cama hospitalar, a fralda estão presentes. O incômodo parece ser generalizado ao que parece, a cama hospitalar remete ao hospital, o banho e necessidades na cama revelam certo constrangimento.


Sair, andar, ir para casa são pedidos constantes. Ficar na cama por horas, dias, meses vai esmorecendo o corpo e as resistências.


Para quem cuida paira o receio que a perda cognitiva e física, nesse processo, seja irreversível.


Aos poucos algumas pequenas conquistas vão acontecendo como: aceitar o andador, caminhar devagar até a varanda, almoçar, lanchar por lá. Sentar para assistir um pouco de TV, tomar banho no banheiro na cadeira.


Esse segundo momento é tão desafiador quanto o primeiro. Ele exige não só da pessoa como daquele que cuida que precisará abrir mão, com segurança, de seus receios e colaborar para a recuperação e retomada de autonomia da pessoa com DA.


Aliás quem cuida sente-se inseguro, sendo natural ter medo e receio de fazer as manobras corporais com a pessoa. Aos poucos, a vida encontra caminhos, o andador ganha intimidade nas mãos que almejam, sem saber, a firmeza de suas pernas. Estamos no caminho, juntas.

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